Lá vem ela...

Quando assisto a um programa de TV, três aspectos surgem quase de imediato na minha cabeça. O primeiro deles é a qualidade técnica – que considero a menos importante, uma vez que a proposta do teleproduto pode confrontar-se com a eficiência no som e na imagem. O segundo é sobre o conteúdo, principalmente quanto à abordagem e profundidade do tema tratado. Na televisão o tempo é sempre corrido (por incrível que pareça!), por isso quando vejo que um determinado assunto foi explorado em níveis satisfatórios, mesmo com o curto tempo, considero de cara bastante louvável a iniciativa, já que não é uma tarefa fácil e exige certa dose de criatividade.

Mas é o terceiro aspecto que considero o mais importante: a linguagem. Afinal, o que torna aquele tema bem tratado em um programa televisivo é a sua linguagem, senão poderia ser uma matéria escrita, um filme, uma música, uma peça teatral ou qualquer outra forma de expressão. Por isso admito ficar bastante encantado quando percebo inovações nesse quesito, a ponto de minorar possíveis inconsistências presentes nos outros dois. Acho que programas ricos em linguagem exploram melhor a sensibilidade do telespectado, ampliam o vocabulário do meio de comunicação e realizam os desejos ansiosos de produtores – enfim todos saem ganhando...

Só que neste post resolvi falar de um programa bastante simples, com formato bem objetivo, mas nem por isso monótono: o De Frente com Gabi. Uma mesa, um entrevistador e um entrevistado são suficientes para fazer de um programa um momento interessante e dinâmico. Atitude arriscada eu diria, mas não quando se trata de Marília Gabriela – jornalista renomada, com vasta experiência na arte do “Por que?”.

O que mais me chama atenção neste teleproduto é porque quando assistimos a um programa de entrevista (desses de formato clássico, sem hibridismos e associações), nos sentimos motivados para tal praticamente por conta do entrevistado ou tema abordado naquela entrevista. No entanto no caso do De Frente cm Gabi, já me vi sabotando raras horas de sono para acompanhar bate-papo com pessoas que, a princípio, não me interessariam, simplesmente porque não conseguia desligar a TV devido ao teor do que era conversado. Já vi passar por aquela mesa Ivete, Alexandre Frota, Lucas Lima, Vitor Belfort, médico neurocirurgião, Bruna Surfistinha, modelo para tamanhos GG e mais uma infinidade de pessoas e assuntos que poderia não chamar minha atenção, mas que ao os assistir descobri que o que eles tinham pra dizer era sim interessante.

Penso que é daí que vem o grande mérito de Marília e sua equipe, justamente na capacidade de tornar a entrevista numa boa fonte de entretenimento e informação, independente de quem for o entrevistado. Se há tão poucos elementos na formação do programa, o entrevistado acaba por ganhar muita importância, sendo que este é uma variável quase incontrolável – afinal ele é um convidado, não trabalha para o programa e pode não colaborar no decorrer da entrevista. Tudo bem que o programa é gravado e existem várias estratégias para conduzir um entrevistado, mas é exatamente esse malabarismo travestido de simplicidade que torna o teleproduto valioso.

Fiquei feliz em saber que o De Frente com Gabi também passa as quartas, acho importante para a TV aberta ter programas como esse e espero que os outros façam o dever de casa. Mesmo não existindo muitos programas de entrevista, este é um formato presente em quase todos os teleprodutos, porém o que se vê é uma repetição de fórmulas cansadas ou a sobreposição de outros formatos para encobrir deficiências dos diálogos. É preciso desenvolver a capacidade de fazer com que o entrevistado ofereça o seu melhor – independe da posição de quem fala, independente da posição de quem ouve. Está dado o desafio...

Vida longa a Gabi!

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