Espreme que sai verdade?

Resolvi no post de hoje falar sobre um tipo de programa muito comum e acessível a todos, que na maioria das vezes produz opiniões e sentimentos tão exacerbados quanto o tratamento de seu próprio conteúdo. Classificada pelos indignados de sensacionalista, essa maneira de lidar com a informação sempre vendeu muito e na televisão não seria diferente. Após o fim de alguns ícones nacionais, o telegênero ressurge como a salvação para retransmissoras locais que viviam numa verdadeira guerra sangrenta entre receitas e despesas.

Dispostos a saírem nunca mais do gosto popular, os frutos da ressuscitada sensação misturam tudo que possa agradar seu telespectado: vinhetas radiofônicas, musicais, clipes, vídeos de celular,  sucessos do youtube, personagens cômicos, mulheres gostosas, replays (tão comuns no esporte), qualquer coisa, contanto que regada a muito sangue. Afinal, mesmo com Aristóteles fora de moda, nenhum diretor vai abrir mão do rentável princípio de unidade para correr o risco de ter seu teleproduto confundido com um inocente programa de variedades. Não é a toa que os apresentadores repetem incessantemente aqueles chavões, gritando aos quatro ventos pra que vieram.

Fazendo escola

Ainda era guri quando o Aqui Agora fazia história nos anos 90, mas lembro vagamente como o programa se apoiava nos informativos tradicionais pra transformar discretamente notícia policial em diversão. Já outro representante da época, o Programa do Ratinho, abusava da rima terror/humor e dava aula no quesito aproveitamento de espaço. Um cenário multifacetado que dançava conforme a música: palanque, picadeiro, rinha, consultório, tribunal... Haja desprendimento!

Hoje o fato é um pouco diferente. Sem o pudor (já polêmico!) do Aqui Agora e o apelo de auditório do Programa do Ratinho, os sensacionalistas atuais esbanjam diversidade de elementos extra-palco e imbricações assustadoras, capazes de colocar Melinda & Melinda no chinelo. A mão da cócega é a mesma do soco no estômago. Não me esqueço de um clipe que assisti num desses programas, em que ao som de pagode, eram exibidos corpos assassinados, batidas policiais, pessoas felizes dançando, além do arremate com uma criança repetindo o bordão singelo(?!) da apresentadora.

O prazer dos contornos

Com a violência do tráfico virando produto de exportação (mais como fonte de entretenimento, do que de debate como se pretendia) o que não falta é pauta e coragem pra prosseguir. Quando pergunto pra amigos por que eles acompanham esses teleprodutos, sempre ouço a mesma conversa: “é bom pra saber a verdade, né?...”. Né não!

Cada um é livre pra crer na realidade que quiser (ok!), mas a gente sabe que o acesso à informação intermediado pela televisão já implica num real muitas vezes questionável. A grande ironia é que os programas sensacionalistas exploram os efeitos de espetacularização da TV, colocando a verdade exibida ainda mais imprecisa. Quem sofre com tudo isso é o telejornalismo arcaico (com suas receitas, manuais, postulados e constituições) que tenta, num malabarismo frustrante, beber também da fonte rica em ferro sem perder a pose de sério.

Agora difícil mesmo é alguém admitir: “Assisto porque me divirto pra c@%$#¢!”. A justificativa pró-verdade é uma maneira de o prazer parecer nobre esforço. Quem guenta??? Eu não tô aqui pra melar a carnificina de ninguém: é humano, desdobramento do mito da morte, sei lá, não é a questão... Agora se é preciso tanto exercitar esse lado, que seja com Tarantino, parece mais inofensivo(?!)... Mas talvez os contornos (e apenas contornos!) de realidade dos sensacionalistas atraiam mais o interesse do público... Fazer o quê???

Não sou contra a esse tipo de teleconteúdo. Não gosto, é diferente! Por isso não acho que deva acabar (torço, admito!), tem até um ponto positivo: a entrevista com o criminoso/suspeito. O tempo dado ao acusado permite revelar um pouco mais sobre ele, contribuindo para minimizar os estereótipos de bandido exercitados nos docudramas policias (anti-social/esquisito, extrovertido/perverso e bonzinho/obsessivo). No entanto há ressalvas! É positivo do ponto de vista teórico, pois na prática as perguntas ao sujeito têm o objetivo de ridicularizá-lo apenas. Outra observação importante é o horário de veiculação, deveria ser após as 22h, horário de almoço com criança assistindo NÃO PODE!

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