Que zorra é essa?!

Decidir o tema do próximo post para o Telespectados nunca foi tarefa fácil.  Não por ausência de assuntos, pelo contrário! Geralmente fico em dúvida se escolho um ou outro tema. Gosto de escrever sobre algo que cutuca a minha mente naquele momento, a questão é que rotineiramente são vários cutuques, daí perceber qual incomoda mais é sempre um dilema. Muitas das vezes a decisão só surge mesmo no instante em que sento diante do PC. Deixo para o primeiro assunto que aparecer no Word! Hoje fui surpreendido por ter escolhido tratar de um teleproduto que até então passava discretamente por minhas vistas. De uns dias pra cá comecei a enxergá-lo com outros olhos e essa descoberta é o que mais tenho vontade de compartilhar com vocês nessa semana.

Muitos devem ter percebido... Já reparam como o Zorra Total lida naturalmente com várias contradições? Esse é um programa que: reúne nomes consagrados do humor e mantêm irritantemente outros sem a mesma expressividade; resgata uma turma antiga e abre espaço para novos e excelentes comediantes; é tratado pela juventude como “bota fora pra balada” e torna-se ao mesmo tempo um dos grandes hits do youtube (a terceira contradição é sem dúvida a mais intrigante!).

Tal façanha é conquistada por conta de sua estrutura. Um programa que no fundo é apenas uma colagem de vários esquetes sujeitos a todo tipo de reação do público. Essas pequenas histórias, no entanto, não são tão independentes assim. Existem dois elementos que as padronizam: roteiro e direção. É daí que consigo justificar a discrição do programa (citada no primeiro parágrafo) por tanto tempo.


Os textos do Zorra Total têm por hábito o uso de bordões. Pensando assim parece fácil escrever semanalmente curtos roteiros, uma vez que partes deles já estão previamente preenchidos. O público, porém, não aguarda apenas pelas frases de efeito, também querem mais. Se as repetições bastassem, era só reprisar o programa. O que não é o caso. O público ao mesmo tempo em que se diverte com os bordões espera ser surpreendido e é, nesse momento, que surge o perigo: como contar diferentes histórias com as mesmas frases? Como contar diferentes e boas histórias com as mesmas frases?

O que parecia redução de trabalho brota como limitador. Percebe-se que os roteiros do programa possuem muita dificuldade no quesito surpresa, pois, mesmo quando conseguem contar outras histórias, suas piadas ganham certo grau de obviedade e antecipação que impede o riso final. Tal característica, associada a uma linguagem audiovisual que se anula, transfere a responsabilidade pela eficácia dos quadros à performance do atores e à força de seus personagens. Peso que nem todos conseguem carregar.


Tenho grandes dificuldades de entender o Zorra Total como único programa. Parece que são vários emendados, em que um ou dois esquetes ganham a injusta responsabilidade de carregar os demais (que parecem estar ali somente para cumprirem o horário da grade de programação). Acho que o Zorra Total, ao invés de um programa, poderia ser um interprograma, em que o resultado isolado de cada esquete seria o fator determinante de sua vida útil. Não sei se esse modelo é comercialmente viável, mas acho que tal mudança poderia contribuir bastante para dinamizar, por exemplo, o sanduíche noturno (novela-jornal-novela) da Globo e, principalmente, diminuir esforços com teleconteúdos que não agregam à emissora.

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