O Vídeo Show e a sua longa turnê...

Terra que tudo dá

A sazonalidade é, sem dúvida, uma das estratégias mais importantes da TV brasileira atual. Mas essa tendência não invalida o uso de recursos mais antigos que por muito tempo modelaram (ou se ajustaram) (a)o nosso teleinteresse. Acredito que a utilização integrada de descobertas e velhas receitas seja a única forma dos latifundiários do espectro magnético resistirem às freqüentes mudanças climáticas, já que a recente diversidade de intempéries vem impedindo que ações isoladas tragam bons frutos satisfatoriamente.

Enquanto que o telenegócio experimenta as vantagens de ora dar morango, ora dar melão, numa mesma faixa horária, alguns programas mantém-se na grade como verdadeiras esperanças de boas colheitas por todo ano. Digo esperança porque, apesar de darem feito-banana, na prática a qualidade de suas safras há tempos deixa a desejar: talvez o modo de plantio tenha se tornado inadequado.

Velho freguês

Um bom exemplo na feira é o Vídeo Show. Um dos programas mais antigos da Globo, já passou por inúmeras transformações, mas mostra recorrentes sinais de desgaste. Em sua última grande mudança até achei que o recauchutado havia encontrado um caminho saudável para a longevidade... Não foi bem assim! As conquistas com cenário, dinâmica e apresentação não conseguiram suprir a dificuldade latente de conteúdo.

A gente sabe que num belo dia a novidade vira rotina e o que sobra é a eficiência com o essencial, até chegar o momento de novos ajustes. Esse ciclo tem um período estimado, que varia de acordo com o volume de alterações. O engraçado é que a sensação de monotonia retornou muito antes do previsto. Minha suspeita: a redundância das matérias. Como estas formam a base do programa, uma vez desestimulantes, nem adianta aperfeiçoar o resto.

Por outro lado é importante pensar que fazer um programa diário com tantas matérias não é tarefa fácil, num certo momento não há mais o que falar, nem bons cacos para tapar os buracos, daí o jeito é recorrer para as repetições de discurso travestidas de atualidade. O possível (e necessário!) novo formato do programa precisa torná-lo menos dependente das reportagens, só assim as que forem produzidas receberão os cuidados necessários.

Pitaco

Hoje o Vídeo Show possui dois apresentadores, três repórteres (???) e um apêndice comandado por Angélica. Seria bacana se o ambiente do Vídeo Game se transformasse no alicerce de todo o programa. O jogo permaneceria apenas como um elemento, só que agora mais imbricado com as reportagens e um artista convidado no decorrer da semana. As relações entre os cinco pontos (apresentador, convidado, platéia, game e matérias) diversificariam as fontes de conteúdo do programa, tornando-o mais fluído e livrando-o da obrigação de muitas reportagens por dia (menor quantidade, maior qualidade?!).


Os roteiristas não precisariam criar tantos conteúdos com uso excessivo de imagens de arquivo e voz over, focando a preocupação na adaptação das informações para o jogo. As matérias ficariam de fato para os repórteres (de preferência menos famosos e mais repórteres!) que, abusando da descontração, teriam a delicada e estratégica responsabilidade de transmitir um pouco da rotina da emissora – sem abandonar as entrevistas com o elenco e as enquetes nas ruas.

O artista convidado continuaria presente durante a semana, mas sua participação iria além do jogo. Ele comentaria as reportagens e também seria entrevistado pela apresentadora e pela platéia, assim como acontece no Altas Horas. Outra referência interessante do programa de Serginho é a distribuição do público por todo o cenário que funcionaria bastante para esse formato. A apresentação ficaria exclusivamente para Angélica (que possui bastante experiência no assunto) e os demais seriam dispensados, pois já estão mais que prontos para novos desafios. Se rolasse ainda uma banda no palco tocando trilhas de antigas produções, aí seria f@#%! A idéia é conseguir trazer o clima dos programas de auditório.

Saindo do papel

Se tudo acontecesse dessa maneira, as gravações permaneceriam uma vez por semana (acho que é assim com o Vídeo Game...), tendo atenção especial para as informações sobre conteúdos veiculados na emissora recentemente, para não se perder os momentos adequados de repercussão. Como esse novo modelo aumentaria o tempo de uso de um mesmo cenário, é relevante avaliar a viabilidade do projeto diante da logística da empresa: disponibilidade de estúdio, rotina de gravação, etc.

É difícil mensurar a rentabilidade e o volume de gastos das mudanças em meio a apenas esboços. Mas já é possível enxergar possíveis cortes no custo fixo do programa, como na manutenção de cenários (de 2 para 1) e no salário de apresentadores (de 3 para 1). Sobre a rentabilidade a fluidez do novo formato facilitaria a inclusão de testemunhais, semelhante ao caso do Domingão do Faustão e do Mais Você, também não impediria a realização do quadro de transformação da Embelleze, podendo escolher alguém da platéia.

Independente da audiência, competitividade e lucratividade, o Vídeo Show precisa ser pensado como um programa estratégico, uma vez que se apóia na metalinguagem para a produção de seu conteúdo. No final das contas o programa torna-se espelho da Globo: o momento em que ela fala de si. Se esse discurso não é interessante, perde-se uma grande oportunidade da emissora agregar valor para sua imagem diante do público e dos clientes.

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