O deus de plástico morreu

Comecei esse texto de forma impessoal, evitando o "eu", mas percebi logo que poderia ser mais útil ao sujeito que perde seu tempo e seus bytes lendo estas maltraçadas linhas se contasse uma história, a minha história no universo da cibercultura. É que há pouco mais de dois anos parte de meu tempo profissional tem sido dedicado a montar um portal de vídeos. Oriundo do jornalismo tradicional, de papel e de telinhas de TV, dos tempos das olivettis, sempre odiei as tais maquininhas, que me obrigavam a escrever e reescrever em laudas massacrantes. Quando as redações informatizaram o processo, pulei de mala e cuia para o mundo dos computadores. Mas não deu tempo de curtir a novidade por muito tempo, porque em seguida as empresas começaram a aderir a um negócio novo que se chamava internet. E lá fui ajudar a montar um portal de notícias.

Meados dos anos de 1990 e lá estava este webwriter e um punhado de jornalistas e estagiários, que nem entendiam direito pra que lado aquele troço ia, decididos a criar do zero um portal com notícias em primeira mão. Os jornalistas tradicionais olhavam pra gente com olhos de assombro. Afinal, o que aquele grupo de malucos tinha em mente ao trocar uma vaga de repórter ou editor no maior jornal da Bahia pra se aventurar num negócio que parecia brincadeira? Mas fomos em frente e o brinquedo se transformou no maior site de notícias do estado, como milhões de page views. Saí para outras aventuras além-mar e aquele grupo inicial cresceu sozinho e foi em frente com suas próprias pernas.

Mas a bola gira e em 2005 uns caras empregados do PayPal criam o youtube.com. Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim não tinham ideia no que estavam se metendo, mas eu, velho surfista de ondas e marolas, mudei de rumo outra vez. Voltei d'além-mar e criei uma empresa multimídia. Televisão no computador era, então, uma utopia de alguns. Entre idas e vindas, as contas se acumulando, voltei aos tempos do papel, justamente para cuidar da qualidade da reprodução dos pigmentos. Mas eis que a empresa decide montar um portal de vídeos e outra guinada se avizinha. Largar o certo pelo duvidoso sempre foi mais emocionante que a rotina e olha o sujeito aqui de novo no centro das mudanças.

Sede do Youtube
Preparar equipe, trabalhar em grupo, formar repórteres, editores de texto e imagens com a cabeça de internet foi a solução óbvia. Parecia mais fácil importar gente de televisão para o processo, e até tentamos, mas não era. A garotada que cresceu na cibercultura estava mais apta ao modelo TV-internet. Demorou, por vários motivos e crises da economia, mas o portal saiu. Ainda em fase beta, precisando de muitos ajustes, mas disponível, com domínio próprio. A www.atardetv.com.br foi pensada em grupo, por jornalistas, designers e programadores e é aí que está a chave para o futuro. Pode mudar, claro, afinal estamos na terra das mudanças, mas é um começo.

Clique na imagem e conheça o Portal A Tarde TV

A televisão tradicional sempre me pareceu impessoal, um objeto no centro da sala, adorado como um deus de plástico. Na internet, a via é sempre de mão dupla ou está à distância de um clique. A possibilidade de comentar de gostar ou desgostar, de compartilhar, repartir, faz da integração da notícia em vídeo, no computador, um negócio revolucionário. A TV digital poderia estar andando nesse trilho, mas o bonde, no Brasil, empacou. Enquanto isso, alguns sites fazem o Carnaval, meio que à revelia do mainstream, que, salvo raríssimas exceções, continua achando que telinha de PC ou Mac é = ao finado deus do início do parágrafo.

Ei, cara! Desculpe se chamo o velho aparelho de finado, afinal todos têm há muito tempo uma relação de respeito com ele, mas alguém precisa dar a notícia. É certo que meu Mac um dia também vai passsar desta para uma pior, e os tablets estão aí para confirmar. Mas, pera aí. Meu filho aqui do lado, no PS3, está jogando um game que parece... um vídeo de notícia. Huuum! Acho que a novidade está acenando pra mim! Fui…
                                                                                                

 
*Marcos Venancio é jornalista e sobrevive com internet desde os anos de 1990. Já participou da criação de portais de notícias, reformulou agência noticiosa para a era da internet, criou dezenas de blogs e acabou de dar à luz um site de vídeos. Mas não está de resguardo. Este é o @mvenancio

1 Resposta aos " O deus de plástico morreu "

  1. Tem a questão de saber se quando se fala de sobrevivência da TV se falamos do aparelho e/ou das emissoras. Sendo que essas últimas creio que nunca morreram mas podem migrar de plataforma.

    Mas é exatamente aí que entra a Internet Tv ou Smart Tv, que nada mais é do que uma TV com recursos de PC conctada à internet. Tem também os box de Internet TV tb, que dão a função Internet e Multimídia às Tvs, inclusive alguns com sistema operacional Android.

    Isso abre um mercado que considero promissor, que é o de assinatura de conteúdo multimídia por streaming, a exemplo do Terra Tv e Netflix que já operam em pleno vapor. Isso possibilitará ao "internetespectador" pagar por filmes lançamentos, séries, programas etc e assistí-lo pela internet em sua TV ou até mesmo no PC.

    As emissoras de tv aberta certamente irão disponibilizar seu conteúdo "on demand" para os que não puderam assistir ao programa na hora da emissão, aproveitando para ampliar o alcance publicitário dos patrocinadores do programa e, potencialmente, aumentar os rendimentos das TVs.

    Mas ai alguém perguntaria: em vez dessas Internet Tvs, não é melhor conectar um net ou notebook à uma TV LED ou LCD com entrada VGA (Função monitor) e assitir o que se tem no PC na TV? Além de achar que a maiora das pessoas não terem muita intimidade com essas interfaces, acho que elas não vão querer pagar por uma Tv e ainda ter que deixar um PC exclusivo pra isso. Sem falar no fetichismo envolvido em ter uma TV que vc pode falar por Skype, acessar youtube etc. Além de que, no PC, se perde o conteúdo ao vivo das TVs (as transmissões de TV aberta ou paga na internet, geralmente são ilegais e de má qualidade de áudio e vídeo).

    Embora que o aparelho de TV em si independentemente disso não morra, o conteúdo produzido exclusivamente para TV pode morrer sim, mas acho que graças à grande diversidade de programas ao vivo, que só valem a pena assistí-los na hora (ai leia-se futebol) e os telejornais. Estes é que devem permenecer intactos na programação das TVs.

    Com as pessoas ainda na frente da TV ou até mesmo passando a deixar de visualizar conteúdo multimídia na frente do PC, talvez a vida util das Emissoras de TV ganhe novo fôlego e se extenda por mais tempo.

    Por falar em youtube, esse também será o grande trunfo dessas TVs inteligentes. Hoje ninguém mais tem tempo, paciência ou memória pra estar esperando o momento exato que passará seu programa favorito ou aquela notícia. O you tube está aí pra isso. Então, essa possibilidade de assistir o Jornal Nacional ou os gols do seu time a qualquer hora, na sala, numa tela grande, junto com a família, será a salvação para a TV nessa década que se abre.

    De uma forma geral, a idéia das Tvs Inteligentes é ótima pois dá interatividade ao tradicional jeito de ver tv, ajudará na socialização entre telespectadores, mudando ainda mais o jeito de ver TV. Acredito que este é o destino da TV aparelho e das emissoras. Os aparelhos, cada vez mais parecidos com os PCs, e as emissoras cada vez mais parecidas com portais de Internet...

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